sexta-feira, 22 de julho de 2011

AÇORES DIA 6 – CAVACOS ANTES DO REGRESSO


Um pouco desiludidos com os resultados da pesca embarcada, no último dia desistimos de pescar na costa. Acordamos mais tarde, arrumamos as malas e rumamos até ao Restaurante Bela Vista, onde tínhamos encomendado três cavacos para almoçar. No dia anterior, depois do regresso a terra, o Paulo tinha ligado ao proprietário a indagar se ele nos preparava alguns peixes para complementar a refeição dos cavacos. Anuiu imediatamente e ficamos de passar a meio da manhã pelo restaurante para entregarmos um rocaz, dois pargos e uma garoupa.

Depois fomos dar uma volta turística pela ilha do Faial, ainda desconhecida para o Rui e o João. Visitamos naturalmente a caldeira vulcânica, onde a temperatura rondava apenas os 10 graus, e a praia do Porto dos Cedros. Fizemos uma volta completa pela ilha, deliciando-nos com as paisagens, com os caminhos ponteados de hortênsias e alargamos horizontes, conseguindo ver em alguns locais quatro das cinco ilhas do grupo central dos Açores – Faial, Pico, S. Jorge e Graciosa. Só não vimos a Terceira...

Pelas duas horas estavamos sentados à mesa para um almoço demorado. Comemos três cavacos (é pena serem tão caros...), saboreamos uma salada de rocaz e terminamos a degustar os pargos e a garoupa, grelhados na chapa. Foi um almoço espectacular! A qualidade dos produtos ajudou, mas o profissionalismo e a simpatia do proprietário e dos funcionários do restaurante foram fundamentais. É assim que se conquista mais gente para o turismo...

Depois foi a partida para o aeroporto e para uma surpresa desagradável. Ao fazermos o “check-in” foi-nos exigido o pagamento de 35 euros por cada um dos três tubos de canas. Argumentamos que na viagem de Lisboa para a Horta não tínhamos pago qualquer verba e que estavámos muito londe de atingir o limite de peso. Debalde. Tivemos mesmo de pagar 35 euros, mas juntamos os três tubos num único volume. É claro que que apresentamos uma queixa formal e esperamos que a TAP tenha o bom senso de devolver o que não lhe pertence! Não é certamente assim que cativa os turistas, nacionais ou estrangeiros!

De Lisboa ao Porto, a viagem foi rápida, com uma paragem na zona da Mealhada. Obrigatória, apesar de ser já madrugada.

Foi a última etapa de uma jornada inesquecível. Pela amizade, pelo convívio e pela alegria.

A repetir? Certamente!


AÇORES DIA 5 – SÓ DÁ MOREIAS...


O último dia de pesca embarcada começou às 9 da manhã. O objectivo era pescarmos frente ao vulcão dos Capelinhos, o que implicava uma viagem superior a uma hora e meia. Trata-se de um bom pesqueiro, onde costumam ser capturados alguns exemplares de lírios e outras espécies pelágicas, recorrendo ao jigging e ao spinning. Durante a viagem fizemos um ligeiro abrandamento para observarmos uma grande família de golfinhos, com muitas crias pequenas, que brincavam a poucas centenas de metros da costa. Foi um espectáculo inesquecível!

Depois começou a acção de pesca e desta vez o Rui conseguiu capturar duas bicudas ao jigging, ainda que num dos casos o peixe tenha sido apanhado pelas costas. Foram cerca de duas horas em que eu e o Paulo observamos a determinação dos nossos companheiros de pesca, apesar da ausência de espécies pelágicas capturadas. Ao que parece, os lírios vão chegar atrasados este ano ao Faial... Ou então, citando Erico Veríssimo, dizer: “Olhai os lírios do campo”... porque os do mar nem vê-los!!!

Foi unânime a decisão de voltarmos a pescar ao fundo. Fizemos várias poitadas e fomos capturando alguns exemplares de pargos, garoupas e até de mais um rocaz, sempre muito desejado! Mas neste último dia o que mais atacou os nossos iscos foram as moreias. Caímos em cima delas e todos nós pescamos um ou mais exemplares, de bom peso, e muito activas no momento da ferragem. O Luís não chegou a colocar nenhuma moreia dentro do barco. Desferrava-as na borda da embarcação, devolvendo-as ao mar. Uma boa medida de segurança, aplaudida por todos, já que as moreias não são muito agradáveis à vista e são mesmo perigosas caso consigam abocanhar uma mão ou pé... Por isso, fora do barco é onde estão melhor! Esta decisão impediu-nos, no entanto, de provarmos um dos pratos tradicionais – moreia frita. Fica para a próxima...

O regresso a terra foi demorado, porque o vento e a corrente provocaram uma ligeira ondulação, que à passagem do barco resultou em salpicos de água que nos molharam a todos...

Foi o baptismo final da nossa pesca embarcada nos Açores. As nossas expectativas sairam goradas. A captura de peixes pelágicos ficou adiada para outra oportunidade. Nos Açores? Provavelmente; mas muito dificilmente, de novo no Faial... Há outros destinos igualmente apetecidos e com outros parceiros, que convém conhecer. Na ilha das Flores, quem sabe...


AÇORES DIA 4 – “PEIXE BURRO”...


A segunda-feira chegou com um tempo excelente. Pouco vento, temperaturas agradáveis e o sol a fazer companhia quase permanente. Aproveitamos estas condições com uma ida até à praia do Porto Pim, na cidade da Horta, a única com areia, ainda que bastante escura. Deu para recuperar do esforço, rir de alguns episódios já vividos e perspectivar a sessão de pesca da tarde. Todos tínhamos grandes expectativas quanto ao facto de irmos fazer o pôr-do-sol a pescar...

O Luís decidiu não andar muito e colocou o barco no canal imortalizado por Vitorino Nemésio, que separa as ilhas do Faial e do Pico. Os três mais jovens do grupo começaram a faina agitando vigorosamente os seus jigs, mas os resultados voltaram a não ser satisfatórios, pelo que passado algum tempo, pedimos ao skipper que ancorasse a embarcação para todos pescarmos ao fundo. Foi uma boa decisão, dado que conseguimos capturar alguns bons exemplares de pargos, abróteas, garoupas e algumas moreias. Esta acção de pesca foi prejudicada pela presença em grande número de bogas que atacavam os iscos, inviabilizando os ataques de outros peixes mais desejados. Com anzóis grandes, as bogas desfaziam os iscos com grande facilidade e rapidamente. Particularmente visado pelas bogas, o Paulo Peixoto contabilizou as suas capturas de bogas – 11 no total. Nada mau para alguém que nunca tinha pescado no alto mar!

Com a aproximação do pôr-do-sol, o Pedro, o Rui e o João voltaram ao jigging, enquanto eu e o Paulo fazíamos na proa alguns lançamentos com amostras. “Trabalhávamos” por turnos – cinco a dez lançamentos para cada um, alternadamente. O Paulo lançou então uma profecia – só peixes muito estúpidos é que se lançariam atrás de uma amostra que corria à superfície, isto num local com uma profundidade média superior a 60 metros...

A verdade é que as bicudas se mostraram particularmente activas e todos nós sentimos o prazer de fisgar um exemplar, sentir a sua força e determinação no momento de o recolher para dentro da embarcação. Foram bons momentos de pesca, mas merece destaque especial o episódio vivido pelo Paulo. A dada altura estava sozinho a pescar na proa quando o ouvimos a dizer, em tom sarcástico e ao mesmo tempo admirado: “Peixe burro, peixe burro”! Prestamos mais atenção e vimos que tinha fisgado um bom exemplar ao spinning e que a cana sofria violentos sacões da bicuda. O peixe veio para dentro do barco, para satisfação de todos...

O seu exemplo inspirou-me a mim, que pouco depois tirei o meu primeiro peixe a pescar ao spinning e ao próprio Pedro, que de seguida conseguiu fisgar mais duas bicudas.

E não deu para mais, porque a noite já tinha caído completamente... O que valeu foi que a viagem até à Marina foi de curta duração.



AÇORES DIA 3 – UMA BICUDA, POR FAVOR...


Domingo, bem cedo, na marina da Horta, lá partimos para a primeira sessão de pesca embarcada. O tempo estava de feição, o mar igualmente e só vento soprava com alguma intensidade. Mas a vantagem de pescar numa ilha é que se pode sempre ir para o lado protegido do vento. Foi o que fez o Luís, o nosso “skipper”. Começamos a pescar próximo do aeroporto e apenas os amantes do “jigging”, ou seja, o Pedro, o João e o Rui. O Paulo e eu ficamos a observar o esforço dos nossos companheiros de aventura. E esforço é o termo adequado, porque o jigging é uma modalidade de pesca muito exigente do ponto de vista físico. A maior parte das vezes estivemos a pescar a profundidades médias de 40 metros; o jig com cerca de 200 gramas é deixado cair na vertical e mal toca no fundo do mar começa a a ser recolhido com sacões violentos, na expectativa de atrair peixes pelágicos, como os desejados lírios, ou em alternativa pargos, anchovas ou bicudas. Ao fim de duas horas de jigging já o Pedro tinha uma bela bolha na mão e quanto a ataques apenas um e para o João, que acabou por pescar a primeira bicuda. O Luís disse então que tanto eu como o Paulo podíamos pescar ao fundo com sardinha, mesmo continuando o barco à deriva...

Dito e feito. Fizemos os primeiros lançamentos e pouco depois saquei um belo exemplar de rocaz, com cerca de 3 quilos, a que se seguiram mais exemplares para todos os pescadores, que acabaram por seguir o nosso exemplo e começaram a pescar ao fundo. Sairam um pargo, garoupas e o Pedro perdeu aquilo que parecia ser um encharéu, porque a linha se enredou noutra montagem... Foi pena.

A pesca estava interessante, mas a verdade é que o objectivo era apanhar exemplares pelágicos ao jigging ou ao spining. Por isso, ao fim da tarde, os três especialistas voltaram à acção, mas sem que alguém tivesse repetido o feito do João.

Com tantas tentativas e mudanças de pesqueiros, acabamos por regressar à marina da Horta já com o sol a pôr-se no horizonte. Foi, por isso, com satisfação que ouvi o Pedro propôr ao Luís que a saída de segunda-feira fosse feita após o almoço e se prolongasse mesmo depois de estabelecida a noite. Tinhamos assim algumas horas para descansar e a esperança de que o pôr-do-sol fosse mais produtivo em termos de pesca.



AÇORES DIA 2 – JOÃO PEQUENO...


Nestas coisas da pesca desportiva, há aqueles que nunca desistem. O Pedro, o Rui e o João são dos mais persistentes que conheço. Nunca desesperam, mesmo depois de dias seguidos de grades... No segundo dia no Faial, mesmo depois de uma noite mal dormida, com poucas horas de sono, decidiram levantar-se ainda de madrugada para irem tentar a sorte no Porto Salão. Eu e o Paulo decidimos ficar na cama e tomar depois calmamente o pequeno-almoço... Encontramo-nos já depois das 10,30. A sessão madrugadora tinha sido uma vez mais infrutífera, apesar do Pedro ter tido uma anchova muito interessante presa e recolhida quase até à margem, mas que conseguiu escapar nos últimos momentos, já na escoa.... Bem interessante foi o almoço no restaurante Bela Vista, a caminho do Varadouro. Provamos os filetes de Veja, um peixe da costa, do género dos bodiões, que se revelaram sensacionais. E mais importante ficou desde logo marcada uma nova visita àquele restaurante para o último dia nos Açores, para comermos uns cavacos, um marisco de qualidade superior à lagosta, segundo a opinião avalizada do Paulo.

Ao fim da tarde, e depois de uma boa sessão de banhos de mar, voltamos ao Porto Salão. Este local é impressionante. O acesso à agua é feito por uma escadaria íngreme, que faz perder a respiração, tanto a descer como a subir... Desta vez ainda fiz uns lançamentos, mas com o anoitecer decidi arrumar a cana e voltar para um restaurante improvisado no cimo da praia, onde já se encontrava o Paulo. Sem a minha presença, e principalmente sem o sol, o João acabou por pescar uma anchova e uma moreia, que estava quase a seco e que se atirou à amostra que o João lhe mostrou... Foram os primeiros exemplares para o João Pequeno, um verdadeiro lugar-tenente, celebrizado na história do Robin dos Bosques...

Estes dois peixes foram oferecidos ao dono do restaurante de que já falei e onde acabamos por jantar, já bem depois das 22,30.

Com tudo isto, acabmos por nos deitar já passava da uma da manhã. E domingo era dia de pesca embarcada, com partida marcada para as 6 da manhã!

Pescador sofre...