segunda-feira, 22 de julho de 2013

O PARAÍSO NAS FLORES - III - PESCA EMBARCADA

III - PESCA EMBARCADA



O sucesso de qualquer saída para o mar depende em larga medida da qualidade do mestre da embarcação. É claro que há dias melhores, outros piores, mas o que mais desespera um pescador é ver o desinteresse e a falta de profissionalismo do mestre. Nas Flores encontramos o sr. Vasco e o seu filho Diogo como anfitriões. Pessoas de grande educação e hospitalidade, bem dispostos e grandes profissionais. Sempre disponíveis para corrigir posições, procurar novos pesqueiros, insaciáveis na procura dos peixes. Há muito que pesco no alto-mar, mas nunca tinha encontrado mestres tão competentes! Muito obrigado pela vossa paciência e competência!


Com estas condições reunidas, foi fácil até para um cota inexperiente nas andanças do jigging, como eu, experimentar novas sensações de uma pesca radical. O jigging pratica-se com aparelhos de peso variável (em média 150 a 200 gramas) feitos de metal, que se deixam cair na vertical. Mal tocam no fundo são recolhidos rapidamente e com constantes sacões. Trata-se de uma modalidade muito exigente do ponto de vista físico. O braço que segura a cana é o mais atingido, em especial a mão e o ombro, mas a outra mão – a que corrica – não escapa a umas bolhas valentes... Agora imaginem fazer isto durante cinco ou seis horas, de pé, sempre em equilíbrio instável... É obra. Só que vale a pena!








Para os predadores das águas açorianas os jig`s de cores variadas, alguns adornados com imitações de pequenos polvos, são irresistíveis. É uma sensação única o momento em que um peixe contraria a nossa ação de recolher a amostra na vertical em grande velocidade e com esticões com a sua vontade de comer. Trata-se de um impacto espetacular, maior quando o ataque ocorre com determinadas espécies e perto do fundo.
Nos dois dias que saímos para o alto-mar tiramos muitas bicudas, anchovas, serras, pargos, meros, cavalas e garoupas.
Tudo momentos especiais pela luta proporcionada, pelos arranques inesperados, pelo barulho do drag dos carretos a ceder às investidas desesperadas dos predadores.


É claro que entre tantos ataques e entre tantos peixes ficaram alguns episódios curiosos, que merecem ser relatados.
O objetivo do Pedro nesta ida às Flores era sacar um lírio. Conseguiu-o no Porto das Lages, ainda que com um exemplar pequeno, mas que deixou perceber a sua combatividade. No alto mar, logo no primeiro dia, tive um lírio bem preso. O ataque foi demolidor, a cana vergou completamente e os sacões eram fortíssimos; tive de abrir um bocadinho o drag do carreto , para ouvir então o “cantar” do aparelho, uma melodia que não mais vou esquecer! Com as indicações do Pedro e do sr. Vasco lá fui conseguindo recolher a linha, sempre alerta para os arranques do lírio. No entanto, quando o peixe estava a poucos metros da superfície, e sem nada que o fizesse prever, acabou por se soltar. Era um lírio com cerca de oito, nove quilos, segundo a opinião avalizada do sr. Vasco, que o chegou a ver, tal como eu e o Pedro, que estava a filmar.
Outro episódio curioso ocorreu com o Pedro. Estava a mandar a linha para o fundo, quando estranhou uma súbita paragem. Perguntou se estavamos a pescar a uma menor profundidade e perante a resposta negativa tratou de recolher a amostra. Só que tinha sido arrancada, ou melhor cortada, pela linha de fluorcarbono de 0,80 mm! A explicação foi dada pelo sr. Vasco – ao descer as amostras para o fundo, os anzóis tendem a vir para cima e ficar ao nível da linha de combate. O mais provável é que um wahoo (peixes enormes e altamente valorizados na pesca desportiva) tenha atacado a amostra e cortado a linha como um lâmina, graças à sua fileira de dentes impressionante!
Um último caso aconteceu comigo. Rebocava uma cavala média, já perto da superfície, quando tive um valente susto. Um vulto surgiu do nada, das profundezas do Atlântico, e seguia a minha desgraçada cavala. Não teve tempo para a atacar. Felizmente, para mim, porque era um monstro e de início julguei tratar-se de um tubarão. A meu lado, o sr. Vasco repetia admirado: “Há muitos anos que não via isto. Há muitos anos que não via isto”. Depois explicou que era um atum albacora que se preparava para comer a cavala. Um atum que, na sua opinião, teria entre 45 a 60 quilos! Como comentou o Pedro e com razão: “Aqui os predadores transformam-se rapidamente em presas”.



Como conclusão posso garantir que a pesca ao jigging é muito interessante, desde que haja predadores na zona. É um tipo de pesca extenuante que exige uma excelente condição física. A prática ajudará muito o desempenho, mas mesmo iniciados como eu - e cota – podem obter bons resultados. Uma escolha de jig menos exigente do ponto de vista físico e um bocadinho de sorte e as deficiências de técnica podem ser superadas. Mesmo assim tenho de reconhecer que dá gosto ver a técnica apurada dos amigos de Lisboa, que são habitués nas Flores, e também do meu Pedro, que rapidamente apanhou o jeito!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O PARAÍSO NAS FLORES - II - PESCA AO SPINNING


II - PESCA AO SPINNING

Nos dois primeiros dias, por causa do tempo, pescamos da costa. Fizemo-lo em Santa Cruz, Fajã Grande e no porto das Lages. Já contei a proeza do Pedro logo no primeiro dia, mas o episódio merece um relato mais pormenorizado. Acabamos de jantar por volta das 21,30 locais e ainda havia muita luminosidade. Derreado pela chuvada e por escassas horas de sono (saímos do Porto às 2 e 30 da madrugada para apanhar o avião em Lisboa às 6,30), recusei o convite do Pedro e fiquei pelo quarto do hotel, enquanto ele foi tentar a sorte numa enseada muito bonita situada mesmo junto da unidade hoteleira.


Já tínhamos constatado que a profundidade era considerável e o Senhor Vasco tinha-nos dito que havia muitas anchovas e bicudas junto à costa. Pouco mais de uma hora depois, e quando o Vitinho já me chamava para a cama, tocou o telefone. Era o funcionário da receção a pedir-me para descer, porque o meu filho tinha uma surpresa. Desci de imediato com a certeza de que eram boas notícias. No hall, o Pedro esforçava-se por esconder atrás das costas um peixe notável. Tratava-se de um pargo enorme! Uma captura espetacular em qualquer circunstância, mais ainda da costa, ao cair da noite, quase sem luz, e sem qualquer ajuda! A juntar a tudo isto, o meu filho teve ainda o sangue frio para pegar na máquina e filmar os últimos momentos da captura, não fosse o pargo escapar-se... Para coroar este feito, é fundamental dizer que o pargo vinha ferrado numa extremidade da boca. Pelo beicinho, como se costuma dizer! Melhores do que todas as palavras, as imagens são esclarecedoras.


É claro que fiquei de imediato sem sono e acompanhei o Pedro em novos lançamentos no mesmo local. Foi a chuva uma vez mais que nos mandou para a cama!
No domingo, ainda sem barco, voltamos ao spinning depois de almoço e de um passeio de carro pela ilha. Escolhemos a outra vila das Flores, as Lages, onde se situa o maior porto. Protegidos do vento acabamos por tirar alguns peixes-porco e um pequeno lírio.




Mais interessante foi ver como diversas espécies seguiam os vinis e as amostras, embora sem atacarem.
De regresso a Santa Cruz, jantamos mais cedo, e voltamos ao spot da noite anterior. Foram alguns minutos bem passados com a captura de anchovas e bicudas.



Alguns vinis ficaram com as marcas da voracidade destes peixes “maléficos”, outros completamente destruídos...


Tinha sido um bom aperitivo para a pesca embarcada dos dias seguintes...

(CONTINUA...)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

O PARAÍSO NAS FLORES - I - AS VIAGENS E O TEMPO

Depois da publicação do excelente “teaser” sobre a nossa viagem aos Açores, coube-me a mim a tarefa de contar as aventuras e desventuras vividas no paraíso das Flores. Ao contrário do habitual, em que relatava por cada dia de estadia, desta vez decidi fazê-lo por temas. Penso que assim é mais fácil para o meu filho Pedro a edição das fotografias e dos vídeos. Espero que gostem tanto ou mais do que nós destes relatos bem documentados, que dão a conhecer a lindíssima ilha das Flores, as suas potencialidades para a pesca desportiva e a qualidade humana dos nossos anfitriões – o sr. Vasco e o seu filho Diogo. O sucesso desta incursão deve-se em grande parte a eles. Obrigado por tudo!

I - AS VIAGENS E O TEMPO

Sempre que planeamos uma escapadela aos Açores para pescar, vamos com o coração nas mãos por causa do tempo. É conhecida a máxima que diz que no arquipélago em cada dia se vivem as quatro estações. Já vimos que é verdade, ou seja que após um período de chuva intensa pode aparecer um dia radioso. O problema é conciliar esta instabilidade atmosférica com as condições ideais de pesca no mar. O melhor é ter fé e confiar que os deuses serão nossos aliados. E têm sido, de tal forma que o melhor tempo que encontramos foi na primeira viagem ao Faial, que ocorreu em meados de Outubro...


Desta vez, escolhemos o pino do Verão, mas no primeiro dia (um sábado) mais parecia estarmos num Inverno rigoroso – vento forte e chuva incessante e forte; para amenizar o cenário, apenas a temperatura era agradável, muito menos agressiva que os 37º graus centígrados que se faziam sentir no Porto!


Impedidos de fazer pesca embarcada, decidimos tentar o spnining de costa. Fomos até Ponta Delgada (nas Flores, para evitar confusões), Fajãzinha e acabamos na Fajã Grande. Pescamos durante duas, três horas, sempre com chuva intensa e algum vento. Não saiu peixe, mas ficamos molhadinhos até... ao tutano!


Por mim dei por concluído o dia de pesca, após um bom jantar, mas o Pedro insistiu já de noite, mesmo em Santa Cruz, a dois passos do hotel e com ótimos resultados – um valente pargo pescado ao vinil!



Nos restantes dias o tempo começou a melhorar, embora no domingo não tenha sido ainda possível ir pescar de barco por causa do vento. Nos restantes dias fomos brindados com dias agradáveis, sem vento, um mar estanhado e temperaturas agradáveis, quase iguais de dia e de noite. Assistir a um pôr do sol viajando de barco a alta velocidade entre as ilhas do Corvo e das Flores é um espetáculo inolvidável. Há um fascínio diferente e até parece que o astro rei insiste em demorar a deitar-se!


Neste apontamento falta falar das viagens. Desta vez fizemos todos os percursos em aviões da SATA. Viagens tranquilas, em aviões modernos e recentes, aparentemente com mais espaço entre os bancos do que noutras companhias. A escolha das Flores implicou uma escala em Ponta Delgada e um voo num avião mais pequeno para as Flores. A aterragem em Santa Cruz ocorreu no meio de uma verdadeira tempestade com ventos moderados e muita chuva, mas foi perfeita apenas com uma travagem de “flaps” bastante forte. Em suma, a experiência dos pilotos da SATA habituados a pistas reduzidas é uma garantia de segurança!



(CONTINUA...)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Ilha das Flores - Spinning e Jigging - Julho de 2013 (Teaser)

Há dias pude finalmente concretizar um desejo antigo - conhecer e pescar na Ilha das Flores. 
Embora pratique todo o ano Spinning, sou viciado em tudo o que é pesca com artificiais e por 3 ou 4 vezes já tinha experimentado Jigging sem êxito (entenda-se capturas) noutras paragens. Desta vez foi bem diferente, para melhor, muito melhor do que as minhas expectativas! O facto de ter ido pescar na companhia do Sr. Vasco (Zagaia Flores) não foi alheio a este facto, bem pelo contrário.
Diverti-me muito na companhia do meu Pai e pude conhecer pessoas fantásticas, prestáveis, amigas, com o mesmo amor pela pesca; refiro-me concretamente ao filho do Sr. Vasco - o Diogo - que me fez rir frequentemente com as conversas que ia estabelecendo com o Pai, via rádio, enquanto comandava outra embarcação (revejo-me nessa relação bem como na forma como o Diogo vive e sente a sua terra-natal); a um grupo de pescadores experientes naquelas andanças vindos de Lisboa - António Gouveia, José Anacleto, Mário Rodrigues e Sérgio Silvestre, com quem pude aprender bastante; e ao Comandante Miguel Borges "Zingarelli"!

Para já deixo um aperitivo do que foram estes curtos dias no paraíso das Flores - o chamado "Teaser"! Eheheheheh!
Entretanto tentarei fazer relatos mais descritivos e precisos da pesca costeira/ embarcada/ Jigging/ Spinning.

  

Sinto-me obrigado a deixar uma menção especial para o Sr. Vasco Avelar, mais do que pelos dias de pesca inesquecíveis, pela amizade, simpatia e hospitalidade! Ficou com um Amigo para a vida! ;)

Ao meu companheiro de sempre,  melhor Amigo, ao meu Pai, que venha a próxima viagem já em Setembro, haja saúde! Ah... e desta vez que o Porto não jogue à hora da escala em ponta Delgada, para não voltarmos a perder o vôo e a pagar multa no de substituição! Looooool!