quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sábado, 23 de Outubro - I'M KING OF MEROS...

O dia de sábado era o mais importante da nossa estadia no Faial. Iria ser passado quase na totalidade a bordo do barco “Faial Terra e Mar”. Depois de um excelente pequeno-almoço no Hotel do Canal, embarcámos cerca das 8,30, ainda com o sol a lançar timidamente os seus primeiros raios. O mar estava espectacular e praticamente não havia vento. O Luís, meste do barco, levou-nos praticamente para o mesmo sítio da véspera, ainda que a primeira poitada tenha ocorrido mais próxima da marina. Quanto à acção de pesca não podia ter começado da melhor forma e, apesar de uma forte corrente, o Pedro engatou logo nos primeiros lançamentos dois belos rocazes (da mesma espécie dos rascassos), peixes que são muito apreciados nos Açores, onde confeccionam uma salada, que – dizem – ser semelhante à salada de lagosta...

Neste primeiro local de pesca, ainda apareceram algumas garoupas, mas com o avanço da maré, a corrente foi diminuindo e os ataques dos peixes escasseando. Foi por essa altura que vimos ao longe alguma actividade das cagarras, indiciadora da presença de atuns ou, mais provavelmente, de bonitos. Rapidamente o Luís levantou a âncora e dirigiu o barco para o largo, enquanto aparelhavámos duas canas com iscos artificiais para o corrico. A tensão aumentou com a perspectiva de podermos “engatar” um peixe que é um lutador nato. No entanto, apesar de várias passagens, não registamos qualquer ataque, pelo que rumamos de novo para mais perto da costa e o Pedro pôde fazer alguns lançamentos com as suas amostras, num local de grande beleza onde a falésia desce verticalmente sobre o oceano. Foi quase uma hora de “spinning” sem sucesso, o que se explica pelo facto de algumas espécies migratórias, como os lírios e os írios, já terem deixado nesta altura do ano os mares dos Açores e, também, porque – segundo o Luís – a lua cheia permite a espécies como as anchovas e as bicudas estarem mais activas de noite e resguardarem-se durante o dia. A verdade é que acabamos por rumar quase ao mesmo local onde no dia anterior tínhamos pescado, apenas um pouco mais ao largo. Linhas para o fundo, começaram de imediato a suceder-se os toques, de peixe miúdo incapaz de abocanhar um anzol quatro zeros, principescamente iscado com filetes de pota e de cavala e adornado por um belo naco de sardinha. Embora incapazes de devorar na sua totalidade os iscos, esses peixes miúdos acabavam por os ir destruindo, obrigando à sua rápida substituição. Entre estes ataques falhados, ainda fomos pescando algumas garoupas e sargos. No entanto, pela minha cabeça e certamente pela do Pedro passou várias vezes a ideia de tentarmos outro pesqueiro, embora não tivessemos transmitido esta ideia ao mestre Luís. Este, como que lendo os nossos pensamentos, afirmou a certa altura que era preferível aguentar mais algum tempo no local, já que este estaria agora bem engodado e que não demorariam a chegar bons exemplares. Foi uma decisão sábia, porque tanto eu como o Pedro começámos a sentir ataques violentos a que correspondemos com fisgadas imediatas. No entanto, o resultado foi quase sempre o mesmo – sentíamos o peixe preso, vibravámos com os seus arranques, mas não conseguíamos arrancá-los do fundo, já que por regra as linhas partiam. As explicações possíveis eram a falta de jeito dos pescadores, o fundo rochoso ou o peso dos oponentes. A verdade é que só depois de seis ou sete tentativas frustradas, com a perda consequente das montagens, é que conseguimos ver a cor dos nossos “adversários”. E para que isso tivesse acontecido foi determinante a sugestão do Pedro ao pedir ao Luís tensos com linha mais grossa – se não me engano de 0,80 mm. Feita esta mudança, os resultados foram imediatos e o grande beneficiado acabei por ser eu – primeiro arranquei do fundo um lindo mero, com mais de 5 quilos, e logo de seguida fui bafejado pela sorte, cravando outro mero, avô do primeiro, que pesava mais de 12 quilos. Este último peixe constituiu uma experiência inolvidável – aquando da ferragem, a sua resposta foi avassaladora e quase me mandava à água. Depois durante alguns minutos, quase não consegui corricar o meu Stella 6000. As pernas tremiam-me, a boca ficou seca e não ouvia os conselhos e os apelos à calma dos presentes. Ao fim de dez longos minutos lá conseguimos subir a bordo este belo exemplar de mero. O meu primeiro comentário foi um explosivo “sou o Rei dos meros”, assim à imagem do Leonardo Di Caprio, na proa do Titanic, quando se auto-intitulou “I`m king of the world”!De referir que este dois peixes traziam no interior da boca alguns anzóis, cravados antes da nossa mudança de montagens – afinal eles andavam à nossa volta há já algum tempo. Depois ainda tive bem preso um belo peixe que tudo indicava ser um senhor pargo, mas que acabou por se desprender na subida. As moreias apareceram de seguida, tendo o Pedro vencido claramente nesta categoria, com um exemplar bem mais pesado que o meu. Tanto num caso, como noutro, não tivemos felizmente que içar as moreias para o interior do barco, já que o Luís se encarregou de as desferrar e de as libertar ainda na água... Pelo sim, pelo não...

A noite aproximava-se e iniciámos a viagem de regresso à cidade da Horta. Tinha sido uma jornada inesquecível. Tive a sorte pelo meu lado, mas tenho a certeza de que o Pedro ficou tão ou mais satisfeito do que eu... Afinal, pode agora gabar-se de que o seu cota é, “ad eternum” o “Rei dos Meros”!

4 comentários:

  1. Parabens aos dois...que bela dupla!!!
    Acreditem que com este relato quase deu para sentir o peixe na ponta da linha....magnifico...foi um sonho!!!

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  2. Lindoo mesmo é a cumplicidade e o carinho repartido por ambos...

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  3. Muito bom!
    Já existia o Rei do peixe Rei e agora o Rei dos meros!
    Parabéns aos dois magníficos pescadores e repórteres!
    abraço
    Atmosférico

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  4. Adorei o vídeo!!! Sem as precisas orientações do Zé Cruz Pai, apanhavas "Tonescos" ah ah ah ah. Sabes que acima de tudo, parti o côco com os Piiiiiii, piiiiiiiiiiiii, piiiiiiiiiii ah ah ah ah ah . Grande abraço aos dois. Cabé

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